ENTRESSAFRA

Primeiro Traço - Manual descomplicado de roteiro é o pretensioso título do livro que acabei de lançar em Salvador, pela EDUFBA, com apoio da FAPESB.
Trata-se de um manual de iniciação às questões da narrativa audiovisual de ficção. Nele, procuro fazer uma introdução ao processo criativo, às funções do formato do roteiro enquanto texto e às heranças das narrativas ditas clássicas. Não procuro discutir as altas e últimas questões das poéticas das narrativas contemporâneas (talvez venha a fazer isso um dia) , mas as primeiras noções de que um leigo interessado no assunto precisaria dispor para começar sua viagem. Bom uso!
A venda nas lojas da EDUFBA. Para saber onde mais, o e-mail deles é coedufba@ufba.br

A Oficina de Roteiro é um curso de iniciação ao Roteiro com quarenta horas de aulas. Tem acontecido aos sábados, das 14 às 18 horas. A última Oficina encerrou-se em julho de 2007. Fizemos a leitura do primeiro tratamento do roteiro que teve o título provisório de "Seqüestro de Coração". Não há previsão ainda de quando faremos a próxima. A duração prevista é de três meses, mas ainda falta acertar detalhes e acomodar a agenda. Assim que possível, começamos a divulgação. Até lá, aceitamos reservas:
rduarte@svn.com.br
A Oficina Permanente de Roteiro acontece uma vez por semana, partir das 19 horas. É uma prática de desenvolvimento de roteiro, com orientação individual. Turmas de até 10, com pré-requisito: já ter prática ou ter cursado antes a Oficina de Roteiro. Dá para pegar o bonde a qualquer momento. Havendo interesse, podemos montar uma turma. Informações: rduarte@svn.com.br

Como se inscrever

Se você quiser mais informações ou fazer reserva para uma futura Oficina mande um e-mail para rduarte@svn.com.br

O que é a Oficina de Roteiro

Um curso de roteiro que vem sendo oferecido desde 1993 em Salvador, Bahia, Brasil. Tem carga horária de 40 horas e em geral é oferecido a turmas de 20 alunos por vez. A Oficina é uma introdução geral à composição de histórias de ficção para registro em suporte audiovisual. Isto é, histórias para serem contadas em filmes ou vídeos. Neste curso, o aluno é iniciado nas questões básicas da narrativa; da linguagem video/cinematográfica; das estruturas dramáticas; dos personagens, diálogos e funções dramatúrgicas; do roteiro enquanto texto, suas funções, seu formato, sua linguagem e, por fim, em diferentes formas de organizar e entrar no processo de criação e desenvolvimento de histórias.

O que é a Oficina Permanente

A Oficina Permanente é um trabalho semanal de acompanhamento de roteiros desenvolvidos por pessoas que já tenham alguma experiência anterior com roteiro ou ex-alunos das Oficinas. A cada encontro, um participante apresenta o estágio alcançado no desenvolvimento de seu roteiro e ouve contribuições do orientador e dos outros participantes.
A idéia é que todos aproveitem da experiência de cada um.
Eventualmente, são feitas apresentações teóricas sobre técnicas e assuntos relacionados com os momentos criativos vividos pelos participantes.


sábado, 24 de fevereiro de 2007

A seiva das histórias ou uma faca de cozinha


Que pretensão, ein, companheiros! Querer deslindar o que seja a seiva das histórias! Não se trata disso. Quero apenas especular se existe algo como uma seiva das histórias. Ou que toda história tenha uma seiva, o que é muito diferente. Seiva, aqui, é uma metáfora daquilo que manteria viva a relação de interesse entre, ops, narratário e narrador. Tô falando difícil?
Narratário sou eu, que leio sua história. Narrador é você, que me conta. Ok?
Mas vamos inverter esses papéis, por dez minutos. Eu conto, você lê.
A primeira história
Era uma vez...
Todos os dias, mais de vinte vezes por mês, volto de uma faculdade para casa, depois das aulas. Faço um percurso quase sempre repetido, com pequenas variações, dependendo do interesse em visitar alguém, comprar uma droga contra as dores do mundo na farmácia ou passear numa bucólica avenida central (esta última opção é mentira, não há avenidas centrais bucólicas!).
Quer continuar ouvindo a história? Ou terá maior interesse de ouvir esta outra?
A segunda história
Oito e trinta da noite, pouco mais. Eu voltava da faculdade para casa. Quando atravessei a Av. Sete em direção ao carro, ouvi uma voz mansa e quase suave, sobre o meu ombro direito:
- E aí, coroa, não tem medo de morrer, não?
Ouvi, mas não percebi, logo, de que se tratava. Veio uma segunda sentença:
- Cadê o dinheiro?
Era um assalto, mesmo. Quando virei o rosto na direção da voz, o que aconteceu numa fração de segundo, enquadrou-se no meu campo visual uma grande faca de cozinha em que fixei meus olhos até o final do episódio. Sou capaz de descrever esta faca nos mínimos e quase microscópicos detalhes de sua forma, sua textura, seus arranhões provocados por uma descuidada e apressada ação de afiar contra cimento áspero. Não sei se vi a cara do rapaz.
O assalto não se consumou. Não que eu tenha convencido ou tenha habilmente dominado corpo e mente do assaltante. Tomei um tamanho susto que reagi. Coisa não recomendável e que eu jamais farei de novo. Com a minha mão esquerda agarrei o pulso direito dele e ficamos num impasse momentâneo, mas inevitavelmente presos um ao outro, já que ele agarrou a manga da minha camisa, no ombro direito. Gritei com ele, umas poucas vezes:
- Tá maluco, cara? Qual é a sua?
O medo me deu uma enorme força na mão esquerda. Instintivamente, devo ter sentido que dominava a mão da faca. Continuei gritando aquele único texto até que ele soltou a outra mão do meu ombro. Livre, empurrei a faca para longe e corri dele, o mais rápido que pude, até me sentir seguro para olhar para trás e avaliar a situação. Ele tinha sumido. Devemos ter corrido em direções opostas, eu para um lado e ele para o outro, ele pensando: Esse coroa é maluco!
Durante algumas noites demorei a pegar no sono, refletindo sobre o risco e a temeridade que cometi. Hoje, um ano depois, deixo de dormir por outras temeridades que ando cometendo (como este blog).
Normalidade e crise
Esta segunda história, mais interessante que a primeira, toca a questão da seiva. Por que?
Porque ela nos conduz a uma crise. Uma quebra de normalidade em que não posso prever o desfecho. Enchi o cara de porrada, chamei a polícia e dei queixa? Entreguei tudo o que tinha e até hoje pago as contas do cartão de crédito? Fui esfaqueado e cheguei à emergência do hospital geral em estado de choque com anemia aguda e estou saindo agora, pela primeira vez? Morri e fui para o céu, entediante. Optei pelo inferno, de onde escrevo estas linhas?...
Parece que o bom narrador tem o dom de captar a instituição da (de uma) crise dentro da ( de uma) normalidade, na construção da narrativa de qualquer episódio. Normalidade e crise tanto podem ser óbvias e gritantes, como sutis e delicadas. Decisão de poeta (aqui no sentido de criador).
Experimente: na próxima vez em que for contar uma história, procure considerar o episódio a ser narrado como uma crise que se recorta sobre o pano de fundo de uma normalidade. Excite a curiosidade do seu ouvinte com detalhes e sobretudo valores dessa normalidade. Depois, institua a crise, como nó dramático, como perda desse valor que, de modo aparentemente desinteressado, você descreveu antes. A história deverá render mais, o ouvinte estará preso à perda do valor original e vai querer que você conte a história até o fim, porque mordeu a isca.
Quer mais? Vamos à Oficina.

3 comentários:

CaRuSchWinGeL disse...

Roberto, parabens pelo blog.
Esta muito bom. Gostei de sua cena de narcisismo explicita e da "construcao" da historia. Um bom projeto web precisa de um bom roteiro, ou arquitetura da informacao.
Um beijo para vc e toda a sorte nas oficinas.

Anônimo disse...

Meu 1º acesso ao Blog e eu tinha que comentar, eu precisava disso, e confesso que pela 1ª vez leio por completo uma página da web, observando todos os seus detalhes quase como um crítico, talvez essa liberdade seja consequência dos minutos intermináveis q acabei de passar durante uma tomografia soliscitada devido a um desvio nasal... Pois bem, fiquei satisfeito com o resultado visual, informativo e degustativo! Espero ter a oportunidade de participar de uma Oficina de Roteiro em breve, mas no momento o Teatro vem consumindo uma grande fatia do meu orçamento.
Parabéns pelo Blog e pela pós-graduação em cinema, informação retirada nesse exato momento do jornal de ontem...

turbina de ideias disse...

Me lembrei de "Tres Usos da Faca", David Mamet. Parabéns pelo blog, Roberto.